Ex-candidato do PSD no Seixal, Paulo Edson Cunha, ameaça com queixa crime a Festa do Avante, caso haja um surto por Covid-19.
Depois de o PCP ter divulgado este sĂĄbado o programa do festival, que conta com mĂșsica africana, fado e fecha com os Xutos & PontapĂ©s.
Paulo Edson Cunha escreveu uma carta aberta dirigida ao partido Comunista.
Leia a carta aquiđđ
Exmos. Senhores ResponsĂĄveis pela Festa do Avante! (quer seja o prĂłprio partido, quer seja quem autorizou a festa),
Como advogado, defensor de causas, ex-autarca durante mais de vinte anos e profundo conhecedor deste concelho, sendo que oito deles como vereador e quatro como vereador da Protecção Civil, portanto com um contacto prĂłximo com a realidade da Festa do Avante!, para onde a Protecção Civil executava e aplicava o Plano de Segurança dessa festa, mas sobretudo como cidadĂŁo, trabalhador (tenho um escritĂłrio) e morador no Seixal, venho dirigir a presente Carta Aberta aos ResponsĂĄveis apelando a que desistam enquanto Ă© tempo e simultaneamente avisĂĄ-los que se nada fizerem e os resultados forem os infelizmente esperados (agravamento dos casos) tomarei a iniciativa de apresentar no MinistĂ©rio PĂșblico do Seixal (e sim, aĂ nĂŁo hĂĄ sede do PCP que os valha, porque nesse caso o crime seria cometido no Seixal) uma queixa-crime contra os responsĂĄveis por esta festa pelo crime de Propagação de Doença, pois nĂŁo Ă© possĂvel que as autoridades sanitĂĄrias e os responsĂĄveis directos pela festa nĂŁo consigam antecipar os perigos, prever o resultado e mesmo assim arriscarem. Se querem brincar com a saĂșde, aluguem uma ilha privada e vĂŁo todos para lĂĄ, mas nĂŁo nos metam a nĂłs em perigo.
Nada me move contra a Festa nas suas diferentes dimensĂ”es. Nem a politica, nem a cultural e associativa, nem qualquer um dos restantes propĂłsitos que a festa alcança, mas compreendam, tambĂ©m nada me move contra os festivais de VerĂŁo, contra os Jogos OlĂmpicos, contra o Campeonato da Europa ou contra as cerimĂłnias dos Ăscares, bem pelo contrĂĄrio e a verdade Ă© que todos esses eventos foram cancelados ou alteraram os seus modelos, sendo este o Ășnico que nĂŁo o fez. Essa Ă© a questĂŁo. NĂŁo se façam de vĂtimas, nĂŁo politizem uma questĂŁo que nĂŁo Ă© polĂtica.
TĂȘm direito de fazer uma reuniĂŁo polĂtica? TĂȘm. Mas como os responsĂĄveis pela Festa sempre apregoaram e sempre defenderam, esta nĂŁo Ă© unicamente uma Festa polĂtica – Ă© muito mais do que isso. E todos o sabemos. O vosso Slogan – NĂŁo hĂĄ Festa como esta – feliz, aliĂĄs, quer dizer mesmo isso. Mas o argumento que tem levado milhares de pessoas Ă Atalaia - Seixal (mais de 100 mil nos anos anteriores) Ă© o melhor argumento para que este ano nĂŁo haja festa – precisamente o ajuntamento previsto de pessoas e o tipo e estilo desta festa.
Nada me move contra o partido, nem contra o Governo, mas jĂĄ nĂŁo posso ficar indiferente e calado perante o perigo a que todos vamos estar sujeitos. O Seixal tem uma população de cerca de 160.000 habitantes, o que jĂĄ a torna, de per si, uma zona permeĂĄvel ao vĂrus, face Ă elevada densidade populacional. O Seixal integra a AML e Ă©, em termos populacionais, o segundo concelho do distrito o que nos leva a pensar se nĂŁo estarĂŁo criadas as condiçÔes para a tempestade perfeita, atĂ© porque os casos estĂŁo a subir de forma assustadora. NĂŁo posso por isso deixar de perguntar:
Aos 160.000 habitantes do Seixal querem juntar, em trĂȘs dias, mais 30 a 40 mil pessoas? Ă que estas pessoas circulam pelo concelho. Colocando-se a si prĂłprios e a todos a nĂłs em risco. No caso dos “festivaleiros”, o risco Ă© consciente, assumido e por isso Ă© da sua responsabilidade, mas e a população do concelho? Quais as defesas que a população tem para fazer face a esta ameaça?
A população do Seixal vive hå anos a reivindicar um hospital, servindo-se de um Hospital Garcia de Orta, jå de si sobrelotado, pelo que é mais um argumento para que não se arrisque.
Os comerciantes do concelho, sobretudo na zona da Amora, apesar das muitas dificuldades e das pressĂ”es que tĂȘm sido feitas, decidiram quase maioritariamente fechar os seus estabelecimentos nos dias da Festa. Porque serĂĄ? Por medo, mais uma vez nĂŁo se trata de ser contra a Festa, trata-se de ter medo das consequĂȘncias de uma iniciativa que decorre indiferente Ă pandemia.
NĂłs, cidadĂŁos do Seixal, temos medo de ver o nosso concelho invadido por milhares de pessoas, que atendendo ao histĂłrico de frequentadores do Avante!, muitas delas jovens, com poucos cuidados, pouca consciĂȘncia social (analisem-se os nĂșmeros da urgĂȘncia do HGO dos anos anteriores e perceberĂŁo o que queremos dizer) e que vĂŁo em apenas trĂȘs dias acrescentar pelo menos mais um terço Ă nossa jĂĄ elevada densidade populacional, com a agravante de se fixar praticamente numa ou duas Ășnicas freguesias (Amora e Seixal) pelo que exortamos aos responsĂĄveis que repensem esta autorização: ainda vĂŁo a tempo de evitar males maiores e ganhar o nosso respeito e aplauso. O risco de realizar uma iniciativa complexa como a “Festa” neste contexto nĂŁo compensa. O preço social e polĂtico a pagar por possĂveis focos de contĂĄgio que venham a ser identificados Ă© demasiado alto.
Advogado