A Brigada Estudantil, grupo que defende os direitos dos estudantes, exigiu hoje que todas as faculdades e estabelecimentos de ensino afetadas por mensagens de Ăłdio e xenĂłfobas apresentem queixa no MinistĂ©rio PĂșblico para que os autores sejam punidos.
Num comunicado, o grupo de coletivos de estudantes que procura trazer para as ruas, para os movimentos e para as lutas uma visão coesa e determinada do movimento estudantil, sustenta que as mensagens, sob a forma de "graffitis", são "absolutamente inaceitåveis e não podem ter espaço numa sociedade que se quer democråtica".
"Reivindicamos que todas as faculdades afetadas apresentem queixa junto do MinistĂ©rio PĂșblico, impedindo que os perpetuadores destes atos intolerĂĄveis saiam impunes. Ă necessĂĄria uma demarcação pĂșblica e forte destes atos, cuja Ăndole nĂŁo pode ser tolerada", lĂȘ-se no documento.
Para a Brigada Estudantil, quem gere as instituiçÔes e academias "tem de as querer como palcos de experimentação democråtica, fortes no combate às assimetrias sociais".
"SĂŁo precisas polĂticas vigorosas para combater o discurso de Ăłdio, tornando os espaços seguros e inclusivos", acrescenta-se no documento, em que se lembra que se vivem "tempos de insegurança e instabilidade" que permitem que "o Ăłdio ganhe mais espaço para se espalhar na sociedade".
"Sabemos, no entanto, que o racismo estĂĄ entranhado nas nossas culturas e que, por isso, deve ser estruturalmente combatido. Os nossos currĂculos perpetuam a desresponsabilização histĂłrica, O que nos impede de estabelecer a conexĂŁo entre o passado e o presente", refere a associação.
Nesse sentido, a Brigada Estudantil defende uma "educação descolonizada e antirracista", que "lute contra os entraves que, todos os anos, marginalizam estudantes afrodescendentes, afastando-os da ascensão social".
"Como Brigada Estudantil, cå estaremos, intransigentemente, a defender os interesses dos estudantes e a apelar para que as nossas instituiçÔes façam o mesmo", termina o comunicado.
Pelo menos duas universidades, a Católica e o ISCTE - Instituto Universitårio de Lisboa, e vårias instituiçÔes de ensino secundårio em Lisboa e Loures foram vandalizadas com frases racistas e xenófobas.
A Universidade CatĂłlica Portuguesa jĂĄ fez saber que avançou com uma denĂșncia ao MinistĂ©rio PĂșblico.
Sexta-feira, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e o secretårio de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, repudiaram as mensagens no Parlamento, considerando-as "um nojo" e escritas por "tristes".
Tiago Brandão Rodrigues começou por classificar de "tristes" quem escreveu as mensagens para depois saudar todos os alunos que rejeitaram tais atitudes.
"Hoje [sexta-feira], tristemente, aqui em Lisboa, uns tristes resolveram pichar escolas com frases racistas, xenĂłfobas, e foi de coração cheio, e tambĂ©m com um olhar atento, tanto como ministro como cidadĂŁo, que vi os alunos daquelas escolas responderem de forma imediata, com rejeição imediata, a este insulto Ă sua condição de cidadĂŁos, todos eles da RepĂșblica Portuguesa ou migrantes que vivem cĂĄ, e todos eles repudiaram automaticamente aquilo que estava a acontecer", salientou o ministro.
Tiago BrandĂŁo Rodrigues saudou estes alunos por terem dado "a melhor lição" e serem "a melhor prova de que o exercĂcio pleno de cidadania democrĂĄtica Ă© sempre a melhor obra" que se pode doar Ă s novas geraçÔes.
"Eu gostava de deixar aqui - e sei que me acompanham, todos - a minha homenagem a estes estudantes e a estas comunidades educativas, quer sejam do ensino båsico, secundårio e universitårio, porque são eles que todos os dias nos dão liçÔes a nós. Só temos de agradecer as liçÔes que nos dão", concluiu.
Também o secretårio de Estado repudiou as atitudes racistas, considerando-as um "ato de cobardia e fraqueza".
"A mim só me mete uma coisa: nojo. E este nojo só contrasta com a vitalidade", sublinhou João Costa, lembrando que os alunos das instituiçÔes em causa se recusaram a entrar nas escolas e que "foram eles próprios pintar" e assim apagar as mensagens.