A candidata a Presidente da RepĂșblica Ana Gomes defendeu uma fiscalização apertada dos fundos europeus para evitar “roubalheira”, e disse ao Governo que “nem pense” avançar com a atual proposta para alterar as regras de contratação pĂșblica. Numa sessĂŁo pĂșblica no Teatro da Trindade em Lisboa, Ana Gomes foi questionada pelo moderador do debate, o ex-diretor de Informação da RTP Paulo Dentinho, sobre a alocação dos fundos europeus que virĂŁo para Portugal na prĂłxima dĂ©cada.
“Essa Ă© uma questĂŁo das mais prementes para todos nĂłs, cidadĂŁos: se nĂłs desistirmos de escrutinar, de pedir contas, de participar nas decisĂ”es da alocação desses fundos, entĂŁo desistimos do paĂs, porque entĂŁo vai haver roubalheira, como houve no passado”, alertou. A antiga eurodeputada do PS ligou este tema Ă proposta de lei do Governo, em discussĂŁo no parlamento desde junho, e que pretende simplificar os processos de contratação pĂșblica, tendo recebido crĂticas de vĂĄrias entidades, incluindo do Tribunal de Contas.
“Temos de dizer ao Governo que nem pense avançar, tal como estĂĄ, com esta proposta para modificar o regime da contratação pĂșblica”, apelou, defendendo o reforço das estruturas de controlo.
“Estou de alguma maneira a tentar perceber o que se passa no Tribunal de Contas, estou a ser bastante diplomĂĄtica, permitam-me para jĂĄ…”, ironizou, numa alusĂŁo Ă s notĂcias da nĂŁo recondução pelo Governo do atual presidente desta entidade, VĂtor Caldeira. Na sessĂŁo de perto de duas horas de resposta a perguntas de nove pessoas previamente escolhidas – todas no palco do teatro, com Ana Gomes ao centro -, uma das mais polĂticas incidiu sobre uma possĂvel coabitação entre um Governo e uma Presidente da RepĂșblica socialistas.
“Esta Ă© uma candidatura independente. Eu disse quando anunciei a candidatura que aceitaria todos os apoios do campo democrĂĄtico, mas nĂŁo faria compromissos com ninguĂ©m”, avisou. Invocando o seu percurso pessoal e profissional, Ana Gomes diz que tem demonstrado que, sendo do PS, nĂŁo tem tido “peias” de criticar a sua famĂlia polĂtica, quando entende que “merece ser criticada”.
“AtĂ© porque exijo mais aos meus do que aos outros. NĂŁo pode haver interesse partidĂĄrio que se sobreponha ao interesse nacional”, defendeu. Foram vĂĄrias as perguntas sobre direitos das minorias – entre os participantes escolhidos, contava-se um estudante guineense, uma portuguesa de etnia cigana ou um refugiado sĂrio – e a candidata foi questionada se concordava com quem diz que “nĂŁo hĂĄ racismo em Portugal.
“HĂĄ racismo em Portugal e noutros paĂses. NĂŁo acho que Portugal seja mais racista que outros paĂses, mas estĂĄ em negação, um paĂs com a nossa histĂłria colonial sĂł tem de valorizar a diversidade que temos”, disse. Sem nunca se referir a qualquer um dos prĂ©-candidatos anunciados na corrida a BelĂ©m, Ana Gomes insurgiu-se contra aqueles que “semeiam Ăłdio, divisĂŁo e violĂȘncia”
“A Constituição da RepĂșblica Portuguesa Ă© muito clara: filosofias e atuaçÔes nazis e fascistas sĂŁo proibidas, e esse Ă© um aspeto que tem de ser levado em conta por todos os agentes do Estado em Portugal, do Presidente da RepĂșblica ao mais jovem cadete das forças de segurança”. No final da sessĂŁo, Ana Gomes disse que nĂŁo aceitarĂĄ contribuiçÔes financeiras para a sua campanha superiores a cem euros e desafiou as outras candidaturas a fazerem o mesmo.